[Tradução antiga] Doktoro Esperanto - Sobre Luís Lázaro Zamenhof, nas palavras de Theodore Dalrymple
O senhor Dalrymple (pseudônimo de Anthony Malcolm Daniels) teve uma vida longa; formado em medicina, mas com uma queda forte pela filosofia desde a adolescência, ele trabalhou como médico na Rodésia (atual Zimbábue), na África do Sul do Apartheid (onde ele quase foi preso pela polícia do regime), no Quiribáti e na Tanzânia antes de voltar para sua Inglaterra natal, onde morou permanentemente até 2005; desde então ele se divide entre a Inglaterra e a França, onde ele possui residência fixa. Seus artigos tratam de vários temas, como arte, cultura, política e filosofia, quase sempre se aproveitando das suas experiências durante seus anos de trabalho. (Esta coluna, em particular, não trata de temas fortemente políticos.) Ele é autor de mais de quarenta livros, alguns deles traduzidos para o português e lançados no Brasil pela É Realizações - entre seus títulos mais conhecidos, estão “A Vida na Sarjeta - O círculo vicioso da miséria moral” (2001), “Nossa Cultura… ou o Que Restou Dela - 26 ensaios sobre a degradação dos valores” (2005) e “Podres de Mimados - As consequências do sentimentalismo tóxico” (2010).
Nota do tradutor: Quando a coluna de longa data de Dalrymple no British Medical Journal acabou em 2012, ele tinha uma reserva de cerca de sessenta textos não-publicados, e ele gentilmente os cedeu para publicação no site The Skeptical Doctor, dedicado à vida e à obra do ensaísta britânico, e de onde eu o traduzi. Estes foram originalmente publicadas às quartas-feiras para coincidir com a agenda da coluna.
O Dr. Lázaro Ludovico Zamenhof (Łazarz Ludwik Zamenhof; 1859 – 1917) estudou na faculdade de medicina da Universidade de Moscou na mesma época de Anton Tchékhov, mas completou seus estudos em Varsóvia por conta da situação política na Rússia após o assassinato do Czar Alexandre II. Ele então foi a Viena para estudar oftalmologia, que subsequentemente praticou.
Mas sua verdadeira paixão era a linguagem. Nasceu em Białystok, e seu artigo na Enciclopédia Judaica de 1906 diz que “quatro línguas diferentes são faladas ali, e a esse fato ele atribuía as constantes dissensões e mal-entendidos que perturbavam a cidade”.
Sendo ele mesmo um brilhante linguista, ele começou a formular uma língua universal que poderia, de fato, reverter as conseqüências da destruição da Torre de Babel (ele escreveu uma tragédia em cinco atos, intitulada A Torre de Babel, quando tinha dez anos). Em 1885, ele publicou seu primeiro panfleto sobre a língua universal que se tornaria conhecida como Esperanto, sob o pseudônimo de Doktoro Esperanto, que dificilmente precisa de tradução.
A idéia do Esperanto se tornou popular – até certo ponto*. Tenho diante de mim meu único livro de Esperanto, o Esperanto Pocket Dictionary (Dicionário de Esperanto de Bolso), 7ª Ed., de 1939, anteriormente possuído por Ernest Whittler, da Whitworth Road, nº 548 – Rochdale (o norte da Inglaterra parece sempre ter tido mais interesse em Esperanto do que o sul). De acordo com o prefácio, esse livrinho vendeu 48 mil cópias entre a primeira edição de 1915 e a sétima de 1939 – muito mais que qualquer outro livro meu.
Sei que é muito errado de minha parte fazê-lo, mas não posso deixar de sorrir quando vejo que antrakso é a palavra em esperanto para antraz, ezofago para esôfago e struto para avestruz. Em geral tive muito prazer e divertimento deste livrinho, que me custou uma libra em uma loja de caridade**. Muitos livros foram traduzidos para o esperanto, e a Associação Esperantista da Inglaterra em Stoke-on-Trent tem cerca de quinze mil deles. Você pode comprar online livros em esperanto pela Associação, incluindo Winnie-la-Pu, que novamente não precisa de explicação.
Há uma tragédia terrível na história do esperanto. O Dr. Zamenhof esperava que sua língua supostamente universal pudesse unir a humanidade. Desenvolveu uma doutrina chamada homaranismo, segundo a qual os povos se tornariam amistosos pelo uso da mesma língua. No Primeiro Congresso Internacional de Esperanto, realizado em Boulogne-sur-Mer em 1905, ele concluiu seu discurso com uma “Oração sob uma bandeira verde”, que assim segue:
Uma verde bandeira hasteada
Significa bondade e beleza.
O secreto poder da luz nos abençoará
E alcançaremos nossa meta.
Derrubaremos os muros entre as nações,
E as muralhas rangerão e gemerão,
E cairão para sempre,
E reinarão para sempre o amor e a verdade sobre a terra.
Creio que a bondade e a sinceridade, se não necessariamente o realismo, do Dr. Zamenhof são óbvios. Infelizmente ele morreu de insuficiência cardíaca em 1917, em Varsóvia, à época sob ocupação alemã no meio da Primeira Guerra Mundial. Diziam que ele estava muito ansioso quanto ao futuro da humanidade, e com muita razão. Todos os seus três filhos foram mortos no Holocausto, quando Varsóvia foi novamente ocupada.
Os esperantistas celebram o quinze de dezembro, aniversário do Dr. Zamenhor, como o Dia de Zamenhof***.
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