[Tradução antiga] Doktoro Esperanto - Sobre Luís Lázaro Zamenhof, nas palavras de Theodore Dalrymple


Saluton. Mi estas D-ro Esperanto, kaj se vi legas ĉi tion,
vi certe havas multan tempon en viaj manoj. :)
(Foto: Bildarchiv Austria)

Olá a todos e perdão pelo sumiço! No dia de hoje, quinze de dezembro, comemora-se o Dia de Zamenhof entre os esperantistas. A pretexto disto, resolvi publicar uma tradução antiga minha, de uma coluna do escritor conservador britânico Theodore Dalrymple, que escreveu sobre a língua em uma coluna de.2012 para o British Medical Journal. A coluna original está disponível aqui: http://www.skepticaldoctor.com/2016/12/14/on-dr-lazarus-ludovic-zamenhof/.

O senhor Dalrymple (pseudônimo de Anthony Malcolm Daniels) teve uma vida longa; formado em medicina, mas com uma queda forte pela filosofia desde a adolescência, ele trabalhou como médico na Rodésia (atual Zimbábue), na África do Sul do Apartheid (onde ele quase foi preso pela polícia do regime), no Quiribáti e na Tanzânia antes de voltar para sua Inglaterra natal, onde morou permanentemente até 2005; desde então ele se divide entre a Inglaterra e a França, onde ele possui residência fixa. Seus artigos tratam de vários temas, como arte, cultura, política e filosofia, quase sempre se aproveitando das suas experiências durante seus anos de trabalho. (Esta coluna, em particular, não trata de temas fortemente políticos.) Ele é autor de mais de quarenta livros, alguns deles traduzidos para o português e lançados no Brasil pela É Realizações - entre seus títulos mais conhecidos, estão “A Vida na Sarjeta - O círculo vicioso da miséria moral” (2001), “Nossa Cultura… ou o Que Restou Dela - 26 ensaios sobre a degradação dos valores” (2005) e “Podres de Mimados - As consequências do sentimentalismo tóxico” (2010).

 

Nota do tradutor: Quando a coluna de longa data de Dalrymple no British Medical Journal acabou em 2012, ele tinha uma reserva de cerca de sessenta textos não-publicados, e ele gentilmente os cedeu para publicação no site The Skeptical Doctor, dedicado à vida e à obra do ensaísta britânico, e de onde eu o traduzi. Estes foram originalmente publicadas às quartas-feiras para coincidir com a agenda da coluna.

 

O Dr. Lázaro Ludovico Zamenhof (Łazarz Ludwik Zamenhof; 1859 – 1917) estudou na faculdade de medicina da Universidade de Moscou na mesma época de Anton Tchékhov, mas completou seus estudos em Varsóvia por conta da situação política na Rússia após o assassinato do Czar Alexandre II. Ele então foi a Viena para estudar oftalmologia, que subsequentemente praticou.

 

Mas sua verdadeira paixão era a linguagem. Nasceu em Białystok, e seu artigo na Enciclopédia Judaica de 1906 diz que “quatro línguas diferentes são faladas ali, e a esse fato ele atribuía as constantes dissensões e mal-entendidos que perturbavam a cidade”.

 

Sendo ele mesmo um brilhante linguista, ele começou a formular uma língua universal que poderia, de fato, reverter as conseqüências da destruição da Torre de Babel (ele escreveu uma tragédia em cinco atos, intitulada A Torre de Babel, quando tinha dez anos). Em 1885, ele publicou seu primeiro panfleto sobre a língua universal que se tornaria conhecida como Esperanto, sob o pseudônimo de Doktoro Esperanto, que dificilmente precisa de tradução.

 

A idéia do Esperanto se tornou popular – até certo ponto*. Tenho diante de mim meu único livro de Esperanto, o Esperanto Pocket Dictionary (Dicionário de Esperanto de Bolso), 7ª Ed., de 1939, anteriormente possuído por Ernest Whittler, da Whitworth Road, nº 548 – Rochdale (o norte da Inglaterra parece sempre ter tido mais interesse em Esperanto do que o sul). De acordo com o prefácio, esse livrinho vendeu 48 mil cópias entre a primeira edição de 1915 e a sétima de 1939 – muito mais que qualquer outro livro meu.

 

Sei que é muito errado de minha parte fazê-lo, mas não posso deixar de sorrir quando vejo que antrakso é a palavra em esperanto para antraz, ezofago para esôfago e struto para avestruz. Em geral tive muito prazer e divertimento deste livrinho, que me custou uma libra em uma loja de caridade**. Muitos livros foram traduzidos para o esperanto, e a Associação Esperantista da Inglaterra em Stoke-on-Trent tem cerca de quinze mil deles. Você pode comprar online livros em esperanto pela Associação, incluindo Winnie-la-Pu, que novamente não precisa de explicação.

 

Há uma tragédia terrível na história do esperanto. O Dr. Zamenhof esperava que sua língua supostamente universal pudesse unir a humanidade. Desenvolveu uma doutrina chamada homaranismo, segundo a qual os povos se tornariam amistosos pelo uso da mesma língua. No Primeiro Congresso Internacional de Esperanto, realizado em Boulogne-sur-Mer em 1905, ele concluiu seu discurso com uma “Oração sob uma bandeira verde”, que assim segue:

 

Uma verde bandeira hasteada

Significa bondade e beleza.

O secreto poder da luz nos abençoará

E alcançaremos nossa meta.

Derrubaremos os muros entre as nações,

E as muralhas rangerão e gemerão,

E cairão para sempre,

E reinarão para sempre o amor e a verdade sobre a terra.

 

Creio que a bondade e a sinceridade, se não necessariamente o realismo, do Dr. Zamenhof são óbvios. Infelizmente ele morreu de insuficiência cardíaca em 1917, em Varsóvia, à época sob ocupação alemã no meio da Primeira Guerra Mundial. Diziam que ele estava muito ansioso quanto ao futuro da humanidade, e com muita razão. Todos os seus três filhos foram mortos no Holocausto, quando Varsóvia foi novamente ocupada.

 

Os esperantistas celebram o quinze de dezembro, aniversário do Dr. Zamenhor, como o Dia de Zamenhof***.


NOTAS DO TRADUTOR
* As estimativas variam olimpicamente, uma vez que é difícil estimar o número de falantes de Esperanto por conta da falta de dados oficiais. Svend Nielsen, um estudante sueco de doutorado e também esperantófono, estima que há 63 mil falantes de Esperanto ao redor do mundo, baseando-se em dados de censos e no número de associados a organizações esperantistas. Culbert (1989) estimou em um milhão o número de pessoas que possuem proficiência profissional na língua, isto é, são capazes de comunicar idéias moderadamente complexas sem hesitação, entender discursos e programas de rádio, por exemplo (o chamado Nível 3 do Instituto de Serviço Exterior dos Estados Unidos [FSI]). O linguista finlandês Jouko Lindstedt, por sua vez, estima que 100 mil pessoas possam usar a língua ativamente, e dez milhões a estudaram por algum tempo. Um dos poucos países a incluir o Esperanto como língua em seus censos, a Hungria contou 8397 falantes do idioma em 2011 - possivelmente um efeito da utilização da língua de Zamenhof para os exames de proficiência em língua estrangeira, necessários para a aprovação nas universidades até pouco tempo atrás.
** No original, “charity shop”, um tipo de loja inglesa que vende produtos a preços baixos, com os lucros revertidos para caridade.
*** Mas pode chamar de Zamenhofa Tago.

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